Thursday, March 20, 2008





How did you get inside me ?






Still all fascinated,
Invaded by everything.

Tuesday, March 18, 2008


Em mim, ainda existe tudo de ti.
Em ti, ainda existe tudo de mim.



Saudades ?

Sim ..




Muitas .





Por si só, o tempo não é nada.
E idade de nada é nada.
A eternidade não existe.
No entanto, a eternidade existe.
Os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
Os instantes do teu sorriso eram eternos.
Os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
Foste eterno até ao fim. '



José Luís Peixoto, Excerto de ' Explicação da eternidade ', O Amor é a Solidão, in A Casa, a Escuridão



[ Mas nunca o saberás, porque foi assim que eu escolhi . ]

Sunday, March 16, 2008

Era o silêncio sobre a terra. O mundo estava preparado. No seu lugar, cada objecto esperava o início. O sol esperava. O mundo estava preparado e suspenso. Nós, dentro dos homens, depois das nuvens, sabíamos como tudo ia acontecer. O nosso olhar passava sobre os campos, rente à terra, atravessava os ramos das árvores e o mês de julho.
No silêncio, distinguíamos as palavras que, durante um momento futuro, se iriam erguer como uma construção de cinza. Nos objectos, distinguíamos os gestos que, a partir de um momento futuro, iriam alterar a sua ordem. Era o silêncio. A terra esperava passos.
O sol esperava olhares para iluminar. O tempo, julho, existia na distância entre os objectos suspensos. Nós assistíamos à espera do mundo. A terra sabia. O sol sabia. O tempo sabia. Nós sabíamos. Os homens não sabiam. Ele e ela não sabiam.
Ele e ela caminhavam na rua. Pensavam em qualquer coisa que não era nem a terra, nem o sol, nem julho. A rua ficou deserta quando se aproximaram.
Esqueceram aquilo em que pensavam. E o lugar das ideias que tinham ficou vazio de tudo aquilo menos daquele instante igual, a divisão de um instante, um instante espetado dentro de um instante, o mesmo ponto de tempo em que olharam um para o outro.
Dentro daquele momento, como de toda a eternidade, aquele foi um ponto de tempo feito de terra e de sol e de julho. E o tamanho da terra entrou pelos seus passos. E o sol entrou pelos seus olhares. E o tempo começou a atravessar-lhes a pele. Nós dentro dos homens, dentro dele e dela, assistimos à progressão lenta da terra. do sol e do tempo nos seus corpos. Devagar, ele sentia que a imagem do rosto dela era como a linha que, devagar, desenha os montes de encontro ao céu na hora em que a última luz é o contorno das montanhas. Ela, devagar, sentia que a imagem dele era como uma montanha, o corpo gigante e seguro de uma montanha, desenhado de encontro ao céu pela última luz. Durante um momento de terra, de sol e de julho, ele e ela sentiram que eram tocados por qualquer coisa grandiosa. E cada um levou esse instante dentro de si. E as ruas por onde passaram eram desertas para acolhê-los. A terra, o sol e o tempo começavam lentamente a invadi-los.
Tinham entrado para sempre nos seus corpos e progrediam em direcção ao lugar mais íntimo, aquele onde guardavam a ternura e o desejo, e progrediam em direcção ao lugar onde nós estavámos, onde assistíamos e esperávamos por aquilo que sabíamos que ia acontecer.
Depois, houve tempo que eram horas misturadas. Nem ele, nem ela conseguiam distinguir as horas que passaram deitados na cama; sozinhos, longe um do outro, deitados, a ver dúvidas que eram angústias esculpidas no tecto; ou as horas infinitas que passaram a olhar pela janela, e a ver, e a sentir que a distância dos campos lhes entrava pela ponta dos dedos. Ele e ela tinham olhos que brilhavam. Ele e ela olhavam através dos vidros limpos da janela e, sozinhos, longe um do outro, sentiam que as árvores da paisagem, as suas raízes espetadas na terra, os seus ramos abertos ao céu, lhes invadiam o corpo e eram como sangue. Na distância de tudo o que viam das suas janelas, viam o rosto um do outro no momento em que o mundo começou lentamente a invadi-los.
E quando, dentro deles, não havia mais do que um pequeno lugar escuro, um cofre fechado, uma garrafa de veneno; quando, dentro deles, a claridade do sol, a água das plantas, a água da terra e o tempo que tinham chegado a todos os lugares dos seus corpos, a todos os lugares excepto ao cofre interior onde guardavam as últimas fronteiras da ternura e do desejo, o pequeno lugar escuro onde nós, a multidão de rostos que somos, o medo onde estamos e somos, o pequeno lugar onde nós esperávamos aquilo que sabíamos que ia acontecer, encontraram-se de novo. E quando os seus rostos foram verdadeiros e reais, como um objecto onde não se imagina mais do que as suas formas tão concretas; quando os seus olhares seencontraram num ponto de ar que era atravessado pela luz, e que já tinha sido atravessado pela noite, e que era atravessado por uma brisa, e que já tinha sido atravessado pelo vento pesado e forte, e que era travessado pelo início quase quente da tarde, e que já tinha sido atravessado pela chuva grossa do inverno, quando os seus olhares se encontraram, a terra e o sol e julho foram a mesma força, foram a mesma corrente, a mesma maré que os invadiu, como se subisse muros e transbordasse, que os atravessou completamente e que entrou no pequeno lugar escuro, no cofre fechado, na garrafa de veneno que cada um deles, até esse instante, ainda tinha dentro de si. E a última ternura, o último desejo, correram livres pelos seus corpos. E nós, o medo, começámos o nosso trabalho, alastrámos pelos seus corpos, como uma onda a arrastar terra e sol e tempo. Depois das nuvens, nós víamos os seus dois olhares, juntos de novo. Debaixo dos seus pés, a terra entrava e saía de dentro deles. O sol entrava e saía de dentro deles. Os ramos das árvores cresciam na sua direcção. As raízes das árvores estavam enterradas na carne dos seus corpos, bebiam seiva das suas artérias. O tempo sob as pedras, sob os rios, sob o voo grandioso do céu era o mesmo, demorava o mesmo que o tempo sob a pele dos seus corpos. A ternura, o desjo e nós, o medo, estávamos definitivamente soltos. O mundo existia em cada um dos momentos. As palavras estavam dispostas sobre os objectos que nomeavam. Ele e ela, ao olharem-se atravessados por tudo, poderiam ter dito a palavra amor. Era uma palavra que estava diante dos seus rostos, misturada com os seus olhares. Mas, por isso, era uma palavra que já não poderiam saber porque, a partir desse momento, nós atravessámo-los para sempre. E nem ele, nem ela sabem o significado mais profundo daquilo que os invade. Os homens não sabem o significado daquilo que os invade. A terra sabe. O sol sabe. O tempo sabe. Nós sabemos. '




José Luís Peixoto ' Antídoto '

Saturday, March 15, 2008

Quando nós encontramos alguém e nos apaixonamos, temos a sensação de que todo o Universo está de acordo; hoje eu vi isso acontecer no pôr do Sol. No entanto, se algo corre mal, não sobra nada ! Nem as garças, nem a música ao longe, nem o sabor dos lábios dele. Como é que pode desaparecer tão rapidamente a beleza que ali estava há poucos minutos ?
A vida é muito veloz; faz-nos ir do céu ao inferno numa questão de segundos. '



Paulo Coelho in ' Onze Minutos '